quarta-feira, 13 de maio de 2020

Sem título

As vozes do espetáculo:
o senhor Giannetti
morreu ao vivo.
Transmite-se a carne
verde da azeitona carnuda
E as vozes da América
e da Oceania
Em meio ao Kani congelado
o Whisky feito shot
à cowboy
dilacerado em meio
a Londres, Tóquio e Amsterdã
San Francisco e sanatório
sanidade para quem não
quer-se-á mais de quem
não ter-se-á notícia
ao vivo, transmitida
à cores...
Pobre senhor Giannetti!

Sem título (cartas a Resende)

Leve-me com você
para acordar ao
meio-dia e por
meio de ilusões
e de fantasias
me recorde
que a beleza
deste dia dorme
sóbrio e sério
antes da sua
última agonia

Por isso um brinde à monotonia
que me guia pelas festas noite afora
e que me grita em calma sabedoria
que minha vida é breve e não demora

Tempo III (cartas a Resende)

Mais do que livros,
as palavras
que perambulam
em meu pensar
e as passagens que
transitam dentro
de mim

Mais do que restos,
o completo
que se estipula
ao seu querer
e as bobagens que
ele parece
querer

Mais do que a chuva
a estação
que gesticula
o seu estar
e a estiagem que
um dia sempre
vem

Sem título

Nada de mais, não há nada
Mais que nada, há nada não

Sem título

Gosto quando não sei escrever
É bom saber de nada
Bom não saber pensar
É tão mais repousante
quando a mente
não está mais

É mais fácil escrever
o que já foi dito
E fica o escrito
pelo não dito
Pois as regras do jogo
sou eu que dito

ZANZARA

Zumbido
Agudo.
Nenhum
Zum-zum
Antigo
Resta
Agora

11 de outubro (cartas a Resende)

Eu sei, hoje é um dia como todos os outros
O engano romântico de que esta data
é só minha, é meu.

6 letras em 6 versos de 6 sílabas poéticas (cartas a Resende)

Hermeticamente é
Enclausurado no
Cosmos que lhe atormenta
Tudo o que ele não sabe,
O nada que conhece;
Resquício de existência

Desejo (cartas a Resende)

Desejo é quando um corpo
incólume à vontade sonha
travessías impossíveis através
das asas de um perfume
que não somente
nos leva aos paraísos oníricos
do possível, como também ao
mundo pálido-real e eloquente
da verdadeira beleza

Vento

sopra sempre suave,
sempre em meses fios
o teu assobio;
ar que tudo sabes

Sem título

Aplica-se facilmente à natureza morta, de contornos frios
e isolados termos. Ganas glaciais de tornar esperanto
os mananciais alcoólicos da minha juventude. Particípio
do descanso. Súplicas insólitas de um cactus em ereção

E a vida se funde em sexo e alucinação

Sem título

Para
compor a
difícil perda
da razão, lê-se
mais cartas e lembranças
do que em qualquer alucinação.
E à risca ensina-se o professor
que não leciona mais e o risco segue-se
perfeitamente com peso de isopor e
de chumbo e do céu, centímetro por
centímetro e em riste o coração

Seis

Escreva algo para mim
Pois pra você eu já escrevi

Devolva-me a carta que enviei
Com uma nova redação

E escreva sob nova direção
O endereço antigo já deixei

Faça conta que é pra mim
Aqueles livros eu já traduzi

Escrevi mais do que falei
Palavras do coração

E pode ser em forma de canção
Com tanto que eu esqueça o que passei

Sem título

antes, quando as notas de 10 eram muito
e muitos dias faltavam para chegar aos de hoje,
o tempo era mais absoluto.
hoje ele escapa, ele foge... e...
fogo! a neblina acoberta o que
rola por baixo dos falsos incêndios.
e isso era tudo.
tundra e tormenta
de úmidas sendas;
rios de lava.
e na água cíclica
meu pijamas profana o passo
d'alma em busca de sonhos
que nunca mais - se foram - vento.
naquela instância,
àquela distância.
e a passo lento.

Ao mesmo tempo (cartas a Resende)

Ao mesmo tempo que
sim, não
Ao mesmo tempo que
tão, vão

Ao mesmo tempo que
sinto, minto
Ao mesmo tempo que
teimo, queimo

Ao mesmo tempo que
eu cresço, estremeço
Ao mesmo tempo que
eu faço, ultrapasso

Ao mesmo tempo que
eu quero, eu espero
Ao mesmo tempo que
eu espero, eu atropelo

O que penso (cartas a Resende)

Eu acho difícil que isso possa mudar
não tenho certeza do que seja diferente
eu pensa assim
é assim que eu penso

Acho impossível que não possa mudar
mas tenho certeza que ainda sou igual
eu penso assim
é assim que eu penso

Ainda podemos acabar o que começou
e podemos iniciar algo que ainda não foi
eu penso assim
é assim que eu penso

Não importa se sou diferente de você
importa mesmo que eu não seja igual a você
eu penso assim
é assim que eu penso

hoje você mudou o que penso
hoje eu penso que você mudou -
o que sou

Não é bem assim (cartas a Resende)

Entenda-me
não lhe quero assim
É como um autorretrato
retratado num jardim
e acobertado pelo pecado
das flores pútridas de uma
amizade mal nutrida

Entenda-me
não lhe quero mal
É como esconder-se no mato
e tornar-se um vegetal
com movimentos nada apurados
até a ante-sala que protege
a câmara, até o jardim

Entenda-me
não é bem assim


sem título (cartas a Resende)

Que horas largas!

Quase desespero na poética de uma
filosofía. Estou atrasado e há várias
datas chegado

Quantas carícias!

E não tropeço num discurso de
polifonía. Minha vida neste instante
se hei mentido, tem sido por pura
cacofonía

Turnos

em turnos faremos apresentações
representações de ermos e taciturnos
velhos. amantes da mentira e falsidade.
as cidades conspiram na mente dos pentelhos

e cresce a mentira em turnos. um a um
os tais triçoarão, de mais a mais, nunca mais
veremos as velhas verdades de amor e ódio
que enchiam os cofres do natural. é normal

'eu te amo' é puro desengano
'te respeito' apenas em meu leito
'em ti confío' simples olhar frio
'minhas condolências' obrigado

apresentem-se e oremos em turnos
como se tudo o que vemos fosse real,
pois, na cidade que esfria os pentelhos
sempre alheios agem contrário à vida

Cartas (cartas a Resende)

Sinto que quero escrever-te o quanto sinto você.
Já deves estar acostumada à mesma caligrafia
Mas mesmo assim, ainda escrevo e espero, não seja
a última das milhares que ainda quero escrever; cartas

É engraçado, quero dizer tudo o que hoje sou e só
consigo enxergar teu rosto e teu semblante dormindo.
Onde estão todos os versos que me inspiraste sempre tu?
Em minha folha, escolha a palavra que melhor seja

Não sou poeta de milagres. Sou por milagre um poeta.
Poeta do que não sei e do que sempre esperei; esperar
Dos teus longos e alvos cabelos obtenho o objeto do amor
e nada mais me diz as coisas que sei tanto como tu

Bailam milagres, torvelinhos entre o silêncio
e tudo segue como sempre foi e eu, como fui e sou
Não há muita coisa que queira dizer em defesa minha,
apenas na tua. Salvar-te de mim. Dar-te meu ser

Assim serás salva. Com o amor de um homem pobre, pois
pobre é o homem que tudo tem e nada quer; a vida
Pobre de quem ama e é dono do próprio amor; escravo
A primeira das milhares que ainda quero escrever; cartas

Pequeña paradoja entre la persona amada y el ser creador trazando antagonismos y situaciones semejantes a ambos a través de un subjetivismo metafórico (cartas a Resende)

Tú estás aquí
porque no estás
Y si te siento
es porque no

Hoy sé que no
mañana menos
talvez vendrás
pero ahora no

Puede que sí
Lo puede ser
Pero lo dudo
no quiero creer

Ahora, si quieres,
si lo deseas,
trata de estar
con quien lo quieras

Quieres salir
a tomar algo?
Si no a cenar,
puedes decir

Qué es lo que ves?
lo veo al revés
el ojo mío
no es ojo tuyo

Y el desayuno?
Lo traigo yo?
O ya ha llegado?
Lo has traído tú?

Deseas la cama
o me deseas?
creo que da igual,
es lo que creo

Y tú; en qué crees?
Yo creo en ti
Me creó a mí
En que crees tú?

Tú estás aquí
porque no estás
Y si te siento
es porque no

Sem título (cartas a Resende)

É o espiral
o cromatismo
de tudo ismo
e a nova ordem
ambulante
Que para amar-te
preciso mais que uma
boa razão para querer-te
preciso ver-te

Paranormal
e o Cristianismo
de tudo ismo
e a nova ordem
perambulante
Pois para amar-te
preciso mais que uma
boa razão para ver-te
quero querer-te

No entardecer e na agonia (cartas a Resende)

Hoje não quero escrever
Não quero ver que hoje há sol
Nem às voltas vou ficar
Não vou olhar pra trás

O que acontece na vida afora
(Agora já não há mais verão)
O que antigamente foi
Já se foi, apenas foi

Hoje você me pergunta, por quê?
E eu respondo porque sim
ontem foi a minha vez
e você disse porque sim

E você me pergunta, por quê?
E eu digo que não sei
Hoje não quero saber
qual o dia, ano ou mês

Há alguns dias você partiu
Não saiu, eu te expulsei
Daqui de dentro onde jaz
tua sombra e algo mais

Embora não queira nada
quero tudo e todos
Mas não quero mais
a mesma obra inacabada

Te espero não sei pra quê
E quero não sei o quê
Tudo não se quer mais
Tudo agora apenas jaz

E já que estou neste banco
eu canto com a caneta antiga
que de antiga não escreve bem
a canção do exílio desse alguém

Não era apenas tu
Era teu amigo
Não era apenas eu
Eram os teus medos

Não era apenas medo
Era todo o enredo
Eram as mensagens
Eram as bobagens

E agora que tudo jaz
o tempo traz a distância
A casa fria, antiga e distante
é o que enfrento de agora em diante

Ante tudo e ante todos
Perante a amante e a traição;
fico com esta última
pois nunca pedirá perdão

Perdão por esta vida e pela outra
(Será apenas outra encarnação)
Sai o escárnio e a maldição,
entra a quietude e a solidão

Por que sair de cena agora
se a performance te alcançou?
Por que fingir tuas duras penas
se não passa de encenação?

Não sigo apenas um caminho
Sigo dois, quatro ou cinco
E enquanto distingo onde ando
o caminho brota, floresce, nasce

Já faz tanto tempo...
Acho que nem faz
A escola agora está fechada
e a rua agora é contramão

Não passa, não vem, nem destrói
E tudo o que um dia foi
já não bate como a dor que dói,
que perfura e que corrói

Enquanto não vens,
a outra vida adiante;
Os vários caminhos,
inúmeras partes

Se a vida é injusta pra você
não se iluda com minha presença
Pois eu serei apenas outro mais
que saberá te eludir com eloquência

A vida passa sem querer
E ficamos esperando viver
Mas ela está neste dia,
no entardecer e na agonia

A tua ausência (cartas a Resende)

Prima em meu peito
fragrância distante
e a sensação vívida
de tua presença

A fumaça tênue
de um amor vazio
sopra em vento frio
dessa tua ausência

À tua ausência
envio meu silêncio,
perto do teu colo
a minha essência

Desta alma clemente
tem por Deus clemência
e priva minha alma
desta tua ausência

Cachoeira

Envolve-me nos teus braços frios e pesados
Desperta-me o amor à natureza, ao belo
Estala-me ardor ao corpo calmo e à deriva
Acorda-me o temor à natureza, à vida

Chuva plácida de manancial
Faz de mim a testemunha mais sólida
O contemplado mais cálido
Da vida pura em bolhas purpúreas

Cala-me o sentimento, esmaga-me no peito
Arranca-me pecados, malvados que há em mim
Deixa-me atônito, agrada-me ao vento
Eleva minha essência benéfica, sem fim

Chuva plácida de manancial
Faz de mim a testemunha mais sólida
O contemplado mais cálido
Da vida pura em bolhas purpúreas



08/01/2008 - 3h22 am

Completa-se a vida
que se vai
Rasura-se assim
esta vida
Sempre mal vestida
de cetim
Eu dato-me em 05
de janeiro
Quanta súplica ao vento
e quanta lágrima distante!
que razão haverá por trás
da triste história do homem?

O que se foi é matéria-prima
para sua segunda advinda
Qual será o relógio feroz
que lhe confessa a sós as horas?

Sem título (cartas a Resende)

Aceito seu conselho
e faço canção
não me impressiona
mais o espelho

Toda melodia tem você
em todo acorde você
até no espelho é você
acho que eu sou você

Se eu apenas lembrasse
de não lembrar você
Ah! se você lembrasse
do que eu sinto por você

E agora nesta hora
queria ouvir o som
do aparelho a chamar
e do outro lado eu

Idade para amar (cartas a Resende)

Cítaras soam e ecoam
Voam sílabas estéreis
Aluviões de saudades;
Idade para amar?
Não há.

Espiral infinito
Escrito sem cessar
Mar de profundos mares;
Idade para amar?
Não há.

Giram trovas e liras
Novas no tempo e espaço
Megatons de prazer;
Idade para amar?
Não há.

Suave tremor do ser,
Ao parecer é amor,
Congela tudo em mim
Idade para amar?
Não há.
Longas noites de sábado
Dançando nuas em sombras
Escuras luas desérticas
E suas ligações peptídicas

Esqueléticas ancas
Suave vai-e-vem do bem
Intrépida, espetacular
Embriagada em luar...

Louca vida passageira
Quão louco é o luar ou Zeus
Amadeus para sempre cômico
Atômico em seu palpitar

Amar em sílabas tônicas
Atônitas bocas loucas
Sinfônicas brisas quentes
Em fônicas alma-mentes
Fala, minha hermana
mas que distância que nada!
posso ver-te por aqui
sempre
aniquilada
de nada

Apunhalar-te de manhã
sinalizar a fronha
Aproximar-me
até as avelãs
e desconsiderar
tudo
Cabe ao tempo escolher a rima
A ruina é ritmo dissoluto
Quebra do instrumento absoluto
Em ressonância cristalina

Morno e indiferente Carnaval
Noite morta em ciclos de poemas
Pedaços ordena em usual tema
A expectativa do que é casual

Liberdade em movimentos
Sem tormentos nem misérias
A pilhéria e o som do vento
Na correnteza da artéria


Sem título

As vozes do espetáculo: o senhor Giannetti morreu ao vivo. Transmite-se a carne verde da azeitona carnuda E as vozes da América e da O...