quinta-feira, 29 de outubro de 2009

REPRISE (gosto desta)

O erro é o eu
Vir a ser ou não vir a ser
Ser ou não ser
O cérebro é do tempo
A mente não

O inimigo é o tempo
A transformação que se busca
Ser ou não ser
O pensamento é do tempo
O relógio não

Vivo no tempo porque penso
Penso que eu vivo no tempo
Não tenho tempo pra pensar
E pensar que já nem tenho tempo...

Não existe nada
Ao mesmo tempo
- tudo
A verdade

Se eu não estivesse morto eu morreria
Pois nesta vida já morri demais
Vivo esperando pra morrer de verdade
Mas a verdade é que ainda viverei muito mais

Se eu não soubesse tanto eu não seria
Pois nesta vida já estudei demais
Vivo escrevendo pra aprender de verdade
Mas a verdade é que ainda aprenderei muito mais

Se eu pagasse pra ver eu venceria
Pois nesta vida já devi demais
Vivo pagando pra poder saldar a verdade
Mas a verdade é que ainda pagarei muito mais

Se eu soltasse você me libertaria
Pois nesta vida já me prendi demais
Vivo esperando para ser livre de verdade
Mas a verdade é que ainda me encarcerarei muito mais



Às vezes acho que eu já não agüento mais
E não consigo te dizer - já nunca mais
Às vezes fujo dela como se houvesse mais
Às vezes acho que eu já não agüento mais

Às vezes penso que eu já não penso mais
E vez ou outra deixo a vontade passar
E acho normal que já não possa haver mais
Às vezes penso que eu já não penso mais

Às vezes sonho que eu já não sonho mais
E morto de cansaço eu já não durmo mais
E novamente durmo molhado em suor
Às vezes sonho que eu já nunca sonhei mais

Às vezes vejo que eu já não vejo mais
Já os óculos escuros são pra que não veja mais
E fico cego pra não enxergar nunca mais
Às vezes vejo que eu já não vejo mais
Eterno mar de sílabas
Tônicas
Tranqüilizar teu dia c’
Outro dia
Aprimorar teus eternos
inventos
Solenizar tua vida com
Obra minha

Outra vida amor
Amor da-me outra
Vida
Dívida prometida
Dúvida compartida

E promete-me o céu
Santificado momento
De poesia que mia
Meu safado lamento.
Procuro a solidão escura da noite
Em tuas unhas castigos e açoites
Cravando lento profundo em meu peito
Sempre que ouço os amigos do vento

Acorde lento, armadilha do tempo
Ao mar amado armado até os dentes
Pois não desfaço os caminhos violentos
E cumprimento infelizes contentes

Suspiro assim tirando tuas roupas
Fantasiando ser teu rei de copas
Em teus seios nus surgindo pra mim
Imagem fresca no Rio ou Parati

Atropelado freneticamente
Acorrentado e perdidamente
Aniquilado sumariamente
Transfigurado sim, certamente

Quilometragem de curvas e retas
Passam diretas incertas corretas
Adulterados transvias e bondes
Emancipados de todas as sortes

Enquanto isso suspira o adentro
Sanguinolentos suspiros incertos
De mãos vazias palavras tingiam
As não erguidas impávidas líneas
Não me faça gritar
não me faça sangrar
não me faça pensar
o que eu não quero mais

o que eu não quero mais, não
me diga o que fazer, não
me diga o que dizer, não
me diga o que vestir, não

não sei o que fazer
não sei o que escrever
não sei o que dizer
não sei o que pensar

mas não me diga
mas não me diga

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Bom dia minha amiga, você já acordou?
Eu te dou meu perdão por dormir demais
Mas não me leve em seu sonho imaginário
Não me meta de pijamas num armário

Boa tarde minha amiga, você já almoçou?
Compreendo seu tesão por comer demais
Mas não me ponha em seu prato de operário
Não me distraia com as luzes do cenário

Boa noite minha amiga, você já rezou?
Acredito em você se você acreditou
Mas não me faça repetir seu sermão
Não me confunda com o que se vê a diário


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Noite dia noite então
separe as pálpebras para ver melhor
não se confunda com o examinador
nem se aconselhe com o pobre pecador

Noite dia noite então
Apure os fatos pra entender melhor
Não leia artigos que te causem dor
Nem se apavore se não há ninguém melhor

NÃO ADIANTA

Não adianta
(foi você quem mudou)
26-02-07 de manhã


Eu sei
Já te disseram não
Já te disseram não te quero mais
E você
Não pôde nem raciocinar
Não adianta saber o que você faz
Nem adianta saber que foi você quem mudou

Eu sei
Que ninguém percebeu
Nem fez questão de ver o que mudou
Não quis saber
Se isso te acrescentou
Não adianta saber o que você faz
Foi você quem mudou não foram os demais

Afinal que é você?
O que você deixou?
O que você construiu?
O que paralisou?

A MEUS AMIGOS (queridos)

Héctor

Quando você está
Não há ninguém aqui
Ninguém aqui quando você está

Embora haja alguém aqui
Eu não consigo ver ninguém

Você é o cara mais perdido que conheço
E reconheço que perdido você é mesmo o cara
Além do mais você não é mais meu amigo
Você não está comigo quando preciso de você

Às três horas da manha só você pode ajudar

Mas eu não sei o que é que há
Acho que é seu modo de andar
Você manca de uma perna
E isso me faz pensar

Se isso é um artifício ou se você fez da arte seu ofício
Mesmo assim sei que é difícil
Aceitar alguém como eu - e ainda diria mais
Sei que deve ser difícil aturar alguém como eu

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Nemer

Tratando-se de você
Não posso dizer que se trata de um tratante
A culpa é minha quando você se vai
Pois eu não vou a nenhum lugar

Enquanto você não chegar
A pesar de pesar no orçamento faço
Chegar até você pêsames e meus pesares
Meus pouco-olhares e diversos dizeres

Porque você é especial pra mim
Porque você me faz espairecer o ser
Pois você é o chefe de sua seção
Pois você é o que não há e o senão

E aparentemente é só um cabeludo a mais
Perto do natural
Que naturalmente procurou seu lar
Perto do natural



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Cristiano

E você -
Você é foda
Como falar do que não se vê?
Como não usar o que não passa de moda?

No começo eu te ensinei às duas horas da manhã
Depois foi sua vez às onze horas da manhã
Passar batido sem bater o carro
E nem tirar sarro de quem não fez igual

Atreveria-me a aterrorizar
Seus teclados na mesa de um bar
E faze-los soar
E no meu palco tocar

Hein?!

Você não ouve muito bem
E eu não ligo pro que houve
Da ultima vez foi você, eu sei
Mas ontem sei, fui eu também

E nesse ziguezague e nesse badulaque
E nesse wuaru-wuaru e nesse bate-bate
E nessa lenga-lenga, não se surpreenda
Você não me mantenha, não se contenha

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Lelê

Sei que você não está, mas quando está, está tudo bem
Lá perto do barquinho eu te conheci, lá no bar...
Já fiz canção de você, já fiz canção pra você
Só espero o dia em que eu fizer canção com você

Não posso dizer que não aprecio seus prazeres
Mas se quiseres álcool sou champagne
E se quiseres cerveja sou budweiser
Na delicadeza do usual a sofisticação
- sempre repousa



O clássico é o popular dos amantes
E o popular dos amantes é um clássico!
Classifico como usual o que acontece
Pois o que acontece é o que é usual

Claramente preferes as penumbras
Das luzes todas, só a que necessitas
Do dia, a noite é a melhor parte
Pois partes do princípio dia-e-noite


Agora eu só
Ouço o som
Daquela ausência
- Repentina -
E do seu gosto
A serpentina
- Daquela –
Que alucina

Cavaleiro errante

Eu vejo tudo nublado
Como num conto de fadas
Eu vejo tudo dobrado
Como página de fábula

Cavaleiros da távola
Que na sua névoa alcoólica
Procuraram o cálice
Em sua névoa triste e bucólica

Não enxergaram um palmo à sua frente
E não descontaram na sua breve vista
Visão distante do cavaleiro errante
Sempre confiante e o seu moinho à vista

Eqüidistante cavaleiro errante
Desmascarado arfante e ofegante
Opera mundos em mundos distante
Sempre operante altivo e constante

Eu te amaria

Arranha céus nesta noite querida
Empunha a faca e estilhaça a ferida
E faça certo tal como há próximo dia
Na categoria de uma vital agonia

Murmura ao longe a esperança perdida
Que de falida só tem a sua fidalguia
Atormentado o ser por mais superado
Assim dizias quando estavas dormida

E quero dar-te o nada
E refrescar-te o seco
Qualquer eco só o ar sofreria
E eu te amaria se fosses minha...

Sem título

As vozes do espetáculo: o senhor Giannetti morreu ao vivo. Transmite-se a carne verde da azeitona carnuda E as vozes da América e da O...