terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CRIANÇAS

Às vezes, quando olho ao meu redor vejo crianças. Cada uma com seu olhar infantil, cada uma com sua condição inocente. Muitas vezes quando olho ao meu redor vejo crianças, seus anseios infantis em seus olhos, seus olhares curiosos em seus rostos. A maioria das vezes que eu olho pra alguém, eu vejo crianças. Agora me lembro de quando eu era menor, do tempo em que as mesas eram gigantescas, as cadeiras inalcançáveis, de quando os adultos eram adultos e não crianças crescidas. Me lembro que os joelhos faziam parte do meu mundo visual assim como as cabeças do meu mundo irreal. A atitude inalcançável dos seus cabelos multiplicada pela minha falta de altura resultava em um desalinho secular, talvés milenar, já não lembro mais. Chegava a sonhar com a diminuta situação do meu corpo no espaço, comparando-o à grande roda da fortuna que sempre importuna, atormentava meu sonhar. Daquele jeito os achava adultos; grandes. Hoje não é mais assim. O mito da existência dos adultos desapareceu num monte de pêlos pubianos que um dia, pra minha surpresa, vieram a crescer. Eles me disseram: "sua criança tola, você não é mais você". Confesso que pouco entendia, mas alí via a diferença do que eu era e do que me tornava ser. Criança popular, criança universal, criança cultural, criança mundial, criança criada... Acontece que hoje olhei pra alguém e vi uma criança crescida. Alguém muito próximo a uma criança que lançou um olhar individual infantil e nela vi meus olhares mais infantis, nela refleti meus quereres mais neutrais, mais naturais, menos artesanais e desconfiei... Seremos nós, todas crianças imortais? Quando penso em mim vejo apenas um ser infantil vivendo um sonho primaveril, vejo o anti-adulto indulgente, vejo o adulto pedindo perdão ao infante (que fui e que ainda sou) e que vejo nas mesas ao redor, com seus olhares de perdão por não terem se tornado os adultos que sonharam um dia ser. Pois seus olhares os entregam, seus gestos os delatam, a maldade os maltrata e a verdade os confunde...

Nenhum comentário:

Sem título

As vozes do espetáculo: o senhor Giannetti morreu ao vivo. Transmite-se a carne verde da azeitona carnuda E as vozes da América e da O...